segunda-feira, 5 de maio de 2025

EXPLICANDO PIADAS

 
Não se explicam piadas, nenhum escritor diz como surge sua inspiração para escrever romances, poesias, crônicas. Eles simplesmente fazem. Mas eu não sou humorista e, muito menos, escritor. Por isso resolvi explicar o texto da próxima postagem.

Tenho andando muito triste, muito descrente na humanidade, muito assustado com a violência e o ódio crescentes, que lembram nuvens de tempestade antes da chuva cair: carregadas, escuras, ameaçadoras. Como acabar com isso, como proteger as pessoas dos efeitos danosos causados por criminosos engravatados ou portando armamento pesado?

Como tornar a legislação menos leniente, menos cheia de brechas e filigranas jurídicas descobertas por advogados brilhantes, especialistas em medidas protelatórias que acabam anulando provas e julgamentos por decurso de prazo ou obtendo a "descondenação" dos condenados?

Quando a forma se torna mais importante que o conteúdo, alguma coisa precisa mudar. É como descartar uma roupa só porque um botão foi pregado fora do lugar. Não sou jurista, não sou criminalista nem tenho apreço por ditaduras. Por isso, dias desses acordei pensando que só mesmo uma intervenção divina, superior às leis humanas, poderia dar um jeito neste mundo sem jeito. E saiu mais um diálogo de spamtar para ironizar o beco sem saída em que a humanidade parece estar entrando.
 
Para esse diálogo meio herético, “convoquei” o Deus do Antigo Testamento, aquele que passa a régua sem piedade, que aplica punições mais rigorosas que os açoites de Singapura e as penas de morte da China e Coréia do Norte. Um deus próximo do código de Hamurabi, da “Lex Talionis”. E é esse rigor primitivo, até mesmo passional, impossível de ser aplicado hoje em dia, que se torna também um tipo de humor.

domingo, 4 de maio de 2025

LUGAR DE CRIMINOSO É EM CASA – RUY CASTRO

 
O premiado compositor e cantor Gutemberg Guarabyra é meu “amigo de facebook”. Graças a essa improvável amizade eu consigo ler as coisas interessantíssimas que publica em seu perfil. E ele é assíduo na rede! A mais recente publicação é um texto do Ruy Castro, escrito, creio, no último dia de abril. Como todo texto escrito por profissional competente, diverte e, paradoxalmente, deixa na boca um gosto de “fundo de gaiola”. Por isso, não consegui resistir à tentação de publicá-lo aqui no velho Blogson. Lêai.

 
Incrível como pessoas de saúde tão delicada roubam, lavam dinheiro, estupram ou tentam golpes de Estado
 
Fernando Collor de Mello, ex-presidente, condenado a 8 anos e 10 meses de prisão em regime fechado por lavagem de dinheiro e corrupção, pleiteia a prisão domiciliar. Seus médicos alegam que ele sofre de Parkinson, transtorno afetivo bipolar e apneia obstrutiva do sono. O Parkinson é uma condição conhecida. O transtorno afetivo bipolar provoca variações bruscas de humor, como períodos de euforia e depressão —140 milhões de pessoas no mundo sofrem disso. E a apneia é a obstrução parcial das vias respiratórias durante o sono, causadora de roncos tonitruantes. Por isso, dizem eles, Collor precisa cumprir a pena em sua cinemascópica mansão construída com o dinheiro da corrupção.
 
Há algumas semanas, a Justiça de Roraima acatou pedido da defesa do ex-senador Telmário Mota, condenado a 8 anos e 2 meses de prisão em regime fechado por abusar sexualmente da filha. Ele é ainda investigado pela morte da ex-mulher, assassinada em 2023 com um tiro na cabeça, em Boa Vista. Segundo o laudo médico, Telmário tem transtorno depressivo, a mesma apneia collorida, miocardiopatia hipertrófica assimétrica, hiperplexia, hipertensão, artrose, cálculos biliares, tendências suicidas e precisa de acompanhamento psiquiátrico. Condoído, o juiz concedeu-lhe prisão domiciliar.
 
E vários condenados a 16 anos e 6 meses de prisão fechada no processo do 8/1 por abolição violenta do Estado democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado, associação criminosa armada, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado também passaram à prisão domiciliar: Sergio Amaral Resende, por necrose na vesícula e sequelas nos rins, fígado e pâncreas; Jorge Luiz dos Santos, por hipertensão arterial, sopro cardíaco e necessidade de cirurgia cardíaca; e Marco Alexandre Araújo, por transtornos psicológicos durante a detenção e uso de medicamentos para depressão.
 
Incrível como pessoas de saúde tão delicada se lançam a essa vida de crimes.
Bolsonaro, mais precavido, já se internou antes da sentença.

sábado, 3 de maio de 2025

AVINAGRADO


Tenho uma cunhada que é assistente social. Mesmo já aposentada continua com aquela característica que parece própria da profissão: super comunicativa, sempre tentando resolver os problemas de gente mais humilde, sempre propondo soluções que ninguém pediu. Justamente por isso, quando comecei a fazer parte da turma sexy – sexyagenária –, passei a provocá-la dizendo que essa conversa de “melhor idade” é coisa de gente hipócrita ou assistente social. Sua reação mais elegante era um – “Vá à merda!”.
 
Mas a verdade incontestável é que um idoso ou idosa não estão mais na “melhor idade”, já passaram dela. E querer passar um paninho nessa situação é, no mínimo, ofensa à inteligência dos velhinhos ou prova de algum retardamento mental. Já disse isso e vou repetir (falta de assunto é foda):

A partir dos sessenta anos – ou até antes – o(a) infeliz está da seguinte forma: tudo o que deveria aumentar ou manter-se, diminui. Por outro lado, o que deveria diminuir ou manter-se, aumenta. A pressão arterial, a glicose, a perda de memória e a barriga aumentam. Diminui a resistência, o sono, a audição, a visão, a disposição e o tônus muscular. E por falar em tônus, aliado a tudo isso, há ainda o efeito da força gravitacional (salve, Newton!) sobre o corpo.

Com a perda de tônus muscular, tudo despenca – as pálpebras caem, as bochechas, os seios, as bundas, as pelancas, as papadas e até os cabelos. Isso, sem falar na ereção, pois, quando ainda existe (acreditem, ainda existe!!), a coisa fica como as bandeiras de prédios públicos em dias de luto oficial: a meio pau...
 
Pois é, eu conseguia ser mais “engraxadinho” no início do Blogson. Mas a coisa realmente fica feia quando além desses defeitos surgidos pelo uso da máquina por mais tempo, surge a demência. Isso, numa boa, ninguém merece!
 
Li certa vez uma declaração comovente do ex-Monty Python Terry Gillian sobre a demência e morte de Terry Jones, também ele ex-integrante daquele hilariante grupo inglês. Segundo ele, o amigo teria se cansado de viver e ido embora, deixando apenas o corpo para trás.
 
É exatamente isso que acontece com quem sofre demência. O Alzheimer é apenas uma das variantes — e o processo é irreversível. Usando um verso do Ivan Lins: “Você foi saindo de mim devagar e pra sempre, de uma forma sincera, definitivamente.” Serve para quem cuida e também para quem está começando a sair de si.
 
E é isso que eu tenho percebido quando levo minha mulher para fazer um tratamento de oxigenoterapia. Dia desses, ela já estava dentro da câmara hiperbárica quando chegou um casal, ele deitado em uma maca. Não dei muita atenção, até ouvir alguém dizer o nome do paciente: Malber.

Ué, eu tive um colega com esse nome incomum! Aproximei-me dele, perguntei o sobrenome e vi que era ele mesmo! Jovial e bem-humorado quando o conheci, muito diferente da pessoa que via agora deitado à minha frente. Por eu já estar aposentado há dezesseis anos seria natural que talvez não me reconhecesse, mas respondeu meio evasivamente quando disse meu maravilhoso sobrenome (Botelho). A reação foi chocha: – “Ah, sim, Botelho”.
 
Perguntei à sua esposa o que tinha acontecido e, entre outras coisas, disse-me que está com Alzheimer ainda no início. Aquilo me deixou abalado, por ser ele apenas um ano mais velho que eu. E já está "indo embora"!
 
Quanto tempo demorará essa viagem? Ninguém sabe, apenas lembro das palavras do ex-presidente Ronald Reagan ao anunciar que estava sofrendo dessa doença: "Agora começa a jornada para o ocaso da minha vida...” 

Então, é isso que eu queria dizer.

Ah, não gostou deste final sem sal? Então anota aí: A melhor idade é aquela compreendida entre os vinte e os quarenta anos. Aos vinte você já se libertou dos traumas da infância e da insegurança da adolescência. Aos quarenta seu corpo ainda está zero bala, com tudo em cima, sem as surpresinhas que começam a surgir a partir da meia-idade. Se você, estimado leitor, querida leitora, já passou dessa fase, só lamento. E é só isso que me ocorre dizer, pois não tenho nenhuma conclusão a tirar nem outro comentário a fazer sobre este assunto meio avinagrado, que deixa um gosto ruim na boca. Mas nem tudo na vida tem gosto de leite com toddy (gelado, por favor), não é mesmo? 

quinta-feira, 1 de maio de 2025

DIZEDELAS E GALIMATIAS

 
No post-agradecimento “Meu Desafeto Predileto” eu publiquei o texto da capa do livro Bíblia do Caos, de Millôr Fernandes. Deu um trabalhinho lascado copiar cada uma das sessenta e duas palavras que formam o que eu chamei de “humor de saturação”. Eu só não precisava ter tido esse trabalho se imaginasse que o Millôr tinha feito no final do livro um pequeno dicionário com elas, comentando seu significado (outra forma de fazer humor). Talvez ninguém se interesse em ler esse tipo de coisa, mas para mim o Millôr foi aquele tipo de sujeito que você diz –“quando eu crescer quero ser igual a ele”. Então, quem quiser, que leia.
 
CAPA EXPLICAÇÃO DESNECESSÁRIA Para que o leitor não corra aos dicionários, com risco de acidente físico-cultural, e pra que não pense que algumas palavras da capa são invencionices filológicas, tipo fi-lo porque qui-lo, o autor desvenda aqui os significados:
 

PENSAMENTOS – função cerebral. Reflexão que envolve todos os sentidos e atos do ser humano. Lupicínio Rodrigues achava: “O pensamento parece uma coisa à toa mas como é que a gente voa quando começa a pensar.”;

PRECEITOS – princípios, prescrições, tentativa de impor aos outros aquilo que assumimos como certo e que, possivelmente, nunca nos serviu pra nada;

MÁXIMAS – basicamente de caráter moral, comumente popular, sempre com aparência de verdade definitiva. Isso não existe; a máxima é uma mentira absoluta, quase sempre conservadora ou reacionária;

RACIOCÍNIOS – constante esforço humano para provar a si próprio uma impossibilidade – a de que é um animal racional. Só isso já prova a irracionalidade humana, sem a feliz, porque completa, irracionalidade dos outros animais;

CONSIDERAÇÕES – jeito de refletir que acaba por nos trazer respeito pelos outros pobres diabos como nós e levar a tratá-los com a devida...consideração;

PONDERAÇÕES – espécie de reflexão tão detalhista e lenta, que leva o ponderador a ser devagar;

DEVANEIOS – fantasia cerebral, própria de pensadores amadores;

ELUCUBRAÇÕES – passar longo tempo ponderando, pensando, antigamente à luz de velas bruxuleantes. Edgar Poe quando lucubrava em suas madrugadas drogadas acabava dialogando com corvos inexistentes. Dizem que inicialmente era um papagaio;

CISMAS – preocupação, reflexão tendente à desconfiança e à suspeita. Cisma-se com tudo e com todos;

DISPARATES – o sentido vem de um jogo de salão em que ouvindo uma coisa (nome, substantivo) segredada num ouvido e uma definição aleatória segredada no outro, o ouvinte revelava aos circunstantes os dois enunciados juntos, provocando gargalhadas;

IDÉIAS – Augusto dos Anjos: “Vem do encéfalo absconso que a constringe”. Uma coisa de que as pessoas geralmente são meras repetidoras. Quando alguém tem duas idéias por semana, como acreditava Shaw, é considerado um gênio;

INTROSPECÇÕES – mergulho que o cavalheiro faz em si mesmo numa busca de verdades interiores, já que aqui fora estamos em falta. Psicanálise sem psicanalista;

TRESVARIOS – desvario potenciado;

OBSESSÕES – Idéia fixa: o que dá ao obsessivo o conforto de não ter que mudar de idéia;

MEDITAÇÕES – concentração profunda e prolongada do espírito. Espremido bem, o cara acaba confessando: estava era mesmo pensando em sacanagem;

APOTEGMAS – dito econômico sentencioso, curto e grosso;

DESPROPÓSITOS – coisa inteiramente deslocada da realidade ou do que se está falando, dita fora de hora, de lugar, de meio. Sempre divertido de usar, sobretudo em velórios;

APODOS – zombaria, apelido, dito depreciativo. Quem usa apodos não tem recalques. Ou se livra deles ao usar os apodos;

DESVARIOS – parente do tresvarios, já citado;

DESCOCOS – descaramento, puro e simples;

COGITAÇÕES – essa é fácil por causa do Descartes que a popularizou: “cogito, ergo sum.” O cara que cogita é cogitabundo;

PLÁCITOS – Achar bom, aprovar; donde beneplácito. Simples, no, mamita?

DITOS – Mexerico e também obscenidade. Se você não encontrar essas definições em seus dicionários, dê o dito pelo não dito;

SANDICES – parvoíce, coisa de maluquete;

ESPECULAÇÕES – considerar minuciosamente, para errar com absoluta certeza;

CONCEITOS – avaliação de atitude ou pronunciamento;

GNOMAS – afirmativa de caráter moral. Geralmente é conservadora, proclamada há tantos anos que pode ser considerada imoral. O mundo já girou, a Lusitana rodou e o gnoma permaneceu o mesmo;

MOTES – divisa, lema de brasão, afirmativa altaneira de cavalheiros templários, hoje reduzida à tema pelos cantadores de feira: “Me dá o mote”;

PROPOSIÇÕES – pensamento com caráter provisório, proposto para ser confirmado ou negado; muito comum é a proposta indecorosa. Quase sempre tentadora. Geralmente aceita;

ARGUMENTOS – indícios com que se procura provar (defender) alguma coisa;

FILACTÉRIOS – espécie de breve ou amuleto usado pelos judeus pendurado no pescoço, ou no braço, contendo sentenças da lei mosaica. Dito, portanto, irretorquível, xiíta;

REFLEXÕES – o pensamento deixando de ser reflexo do exterior e voltando-se sobre o próprio refletidor. Em física a modificação da propagação de uma onda, fazendo-a voltar ao ponto inicial. Não ficou mais claro?;

ESCÓLIOS – explicação de um texto clássico. Ou a complicação de um texto novo a fim de que ele se torne clássico;

CONCLUSÕES – é isso aí, e não se toca mais no assunto. Falei, tá falado;

AFORISMOS – conceito, em geral de caráter moralístico. Donde preconceito;

ABSURDOS – que foge à qualquer convívio com o raciocínio de pessoas dignas e bem pensantes. Pior só o abmudo. Ou, ainda mais, o absurdomudo;

MEMÓRIAS – geralmente aquilo que se esquece;

ESTULTILÓQUIOS – palavrório, discurso estulto, tolo, néscio, imbecil, insensato, inepto, estúpido; espera aí vocês vieram pra me ler ou pra ofender?;

ALOGIAS – contra-senso, incapacidade de expressão por lesão dos centros nervosos ou por falta de lógica pura e simples;

DESPAUTÉRIOS – besteira sem tamanho, asneira desmedida. Dizem que a palavra vem de Van Pauteren, filósofo flamengo do século XV, famoso por formulação de teorias lingüísticas idiotas. A gente conhece o tipo;

AQUELAS – você conhece aquela do Antônio Houaiss?;

INSULTOS – ofensa, injúria que as vezes ataca a própria pessoa, e se chama insulto cerebral;

NECEDADES – pacovice, barbaquice, bertoldice, bernardice; pronto, ficaram na mesma;

DISLATES – asneira pura e simples, sem mais enfeites;

PARADOXOS – ir contra o senso comum, contra a própria lógica aparente, contradizer se contradizendo. Não é bom?;

PRÓTASES – depois da prótase, como ninguém ignora, vem a epítase e logo depois, como qualquer menino sabe, a catástase. Ou vocês, na gramática, não aprenderam também a prótese, a epêntese e a parágoge?;

SOFISMAS – argumento que parte de premissas corretas para conclusões perfeitamente mentirosas, mas irrefutáveis. Tipo silogismo crítico; “Todo bom e barato é raro. Todo raro é caro. Logo todo bom e barato é caro.”;

SINGULARIDADES – como me afirmou Camilo Castelo Branco: “Ora, o senhor Millôr está a dizer coisas que parecem de doudo.”;

MIOPIAS – estreiteza de opinião que leva fatalmente à estreiteza de visão;

ESTULTÍCIAS – aquilo em que se compraz o estulto;

SILOGISMOS – forma filosófica de duas premissas e uma conclusão para embatucar todos nós: “Nenhum homem é perfeito. Todo prefeito é homem. Logo nenhum prefeito é perfeito.”;

TERGIVERSAÇÕES – subterfúgios, fuga aos compromissos, explicações pra brochuras.

ENORMIDADES – Absurdo sem tamanho. “O Millôr nesse livro só disse enormidades”;

PARANÓIAS – afirmativas que revelam mania de grandeza, ambições suspeitas, ou mesmo insuspeitas, por que não?;

LEVIANDADES – ligeireza, irresponsabilidade, incapacidade de levar o leitor a sério, mesmo quando ele compra um livro de 500 páginas;

IMPRUDÊNCIAS – falar o que não deve, ou o que deve em momento indevido, uma forma de firmeza de caráter desconhecida por políticos;

INCOERÊNCIAS – em física a propriedade de um ciclo de ondas com fases que não guardam relações constantes entre si. É por aí;

DESABAFOS – quando a pessoa mente ou conta vantagens a isso se chama bafo. Desabafo é exatamente o contrário;

GALIMATIAS – palavras incompreensíveis, como se fossem pronunciadas em Babel, em todas as línguas;

HERESIAS – qualquer coisa de que a gente não gosta e da qual não consegue se defender;

HIDROFOBIAS – os latidos precursores da mordida.

DIZEDELAS – Ditos.

quarta-feira, 30 de abril de 2025

HOMO HOMINI LUPUS EST

 
Este país é mesmo uma tristeza! Já não bastava o Carlos Lupi ter deixado o cargo de ministro do Trabalho da Dilma Roussef cercado de acusações de corrupção? Tinham de dar para ele o cargo de ministro da Previdência Social no governo Lula?
 
Dizem que “o homem é o lobo do homem” (Homo homini lupus est, em latim). Mas no Brasil talvez possa ser dito que o Lupi é o lobo do “Homem” (aquele!), um lobo plural (Lupi) que parece adorar um treta gorda.

MEU DESAFETO PREDILETO

Ele é o mais antigo leitor do Blogson Crusoe, já foi “seguidor”, deixou de ser, voltou outra vez, deixou novamente de ser. Talvez por termos mais diferenças que “parecenças”. Ele entrou na melhor idade, e eu já estou quase saindo – dela ou de qualquer outra; ele faz questão de beber cerveja barata mas boa, eu só como bombom de licor; ele é fã do Raul Seixas, eu não consigo mais escutá-lo; eu e ele somos heterossexuais e gostamos de falar palavrões (ele gosta mais que eu); ele parece ser muito culto, eu levo mais jeito para carroceiro; ele é pós graduado em ironia e sarcasmo, eu só cheguei até a quinta série;ele se chama Ricardo, e eu também (não tente entender!); ele odeia o PT e eu também; ele baba de ódio pelo Lula, eu faço o mesmo pelo Bozo; já se enfureceu comigo e eu já fiquei puto com ele; ele é conservador, eu quero ser apenas livre (ou anarquista, se preferir).
 
Creio que poderia defini-lo como meu desafeto predileto, pois mesmo que não o conheça pessoalmente (e espero que continue assim), tenho uma genuína simpatia por ele, talvez maior que muito “amigo” da vida real.
 
E esse sujeito, o irascível Azarão do blog “A Marreta do Azarão”, deu-me dois preciosos presentes, dois livros do meu ídolo Millôr Fernandes – um verdadeiro filósofo que utilizou o humor e a ironia para expor sua visão de mundo. Definindo-se como um “livre atirador”, Millôr disse verdades lapidares como esta: “Não existe pensador católico. Não existe pensador marxista. Existe pensador. Preso a nada. Pensa, a todo risco.” E definia a ideologia, qualquer ideologia, como uma "bitola estreita para orientar o pensamento".
 
Tendo circulado por todo tipo de humor, utilizou no livro a “Bíblia do Caos” uma de suas formas mais curiosas e sofisticadas, que eu chamo de “humor de saturação”, obtido com o uso exaustivo de sinônimos e palavras correlatas, tal como se lê na capa de um dos presentes que recebi, que ele assim definiu:
 
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Agora, chega de conversa fiada, pois o que eu quero é mergulhar no Caos do Millôr. Obrigado, Marreta.

segunda-feira, 28 de abril de 2025

PARABÉNS, TIO DANI

 
Hoje nosso filho mais novo comemora seus 38 anos de vida. Sempre me surpreendo ao pensar nessa idade, pois, até outro dia, ele era um menino que me dava um abraço demorado, dizendo com um sorrisinho maroto “- Colou!”. Eu achava aquilo uma delícia. Hoje, quem às vezes o abraça demoradamente e diz “- Colou!” sou eu.
 
“Tio Dani” – como é chamado pelas sobrinhas –, é um fenômeno de inteligência emocional, pois é impossível não gostar dele e de seu sorriso tranquilo e sedutor. Manda super bem na cozinha e até criou o blog “Mixidão”, ideal para os analfabetos culinários, aquele pessoal que confunde alcachofra com Cochabamba e que mal, mal consegue fritar um ovo ou preparar um miojo. Além disso, já publicou dois livros de receitas lindissimamente ilustradas (a propaganda é a alma do negócio!), O primeiro volume está esgotado, mas ainda é possível adquirir o segundo através de seu blog (https://mixidao.com.br/).
 
 É difícil para um pai coruja e babão ter isenção para falar dos filhos a quem ama tanto sem se derramar em elogios. Mas ele e seus irmãos merecem isso, tal o carinho e preocupação que demonstram por nós. Em 2016 eu publiquei um texto em sua homenagem, cujo link é este:
https://blogsoncrusoe.blogspot.com/2016/04/o-bom-selvagem.html.
 
Parabéns, Tio Dani!

EXPLICANDO PIADAS

  Não se explicam piadas, nenhum escritor diz como surge sua inspiração para escrever romances, poesias, crônicas. Eles simplesmente fazem. ...